MAUS-TRATOS E VIOLÊNCIA AUMENTAM EM ANIMAIS DE RUA

Nas últimas semanas, a Clínica Veterinária Habitat vem recebendo diversos atendimentos emergenciais por conta de cães abandonados nas vias, dentro das cidades de Mariana, Ouro Preto e região, além de animais errantes com sinais de maus-tratos e sinais de violência. Vindos a partir de resgate pelo Corpo de Bombeiros e pela ONG IDDA (Instituto de Defesa dos Direitos dos Animais), ambos em parceria com a clínica, os animais chegam em estado calamitoso e a maioria dos casos, independente de todos os esforços da nossa equipe de médicos veterinários, culminam no óbito do animal.

Com o aumento significativo de atendimentos emergenciais, a pergunta que vem em nossas mentes é: “Como um ser humano é capaz de fazer tal atrocidade?”. A resposta exata para essa pergunta talvez nunca teremos. No entanto, médicos veterinários, psicólogos, psiquiatras e outros especialistas reuniram-se em simpósio internacional, nos dias 16 e 17 de setembro, na USP (Universidade de São Paulo), para discutir sobre os fatores que podem intervir no comportamento humano a cometer maus-tratos a animais.

O artigo 32, do capítulo 5 da lei de crimes ambientais número 9.605, de fevereiro de 1998, bem como o artigo 225 da Constituição Federal, são os principais instrumentos jurídicos que defendem a saúde e o bem-estar dos animais, bem como criminalizar maus-tratos ou ferimento a animais silvestres, domésticos ou domesticados. No entanto, mesmo com a lei atuante e o ato devidamente criminalizado desde 1998, ainda nos deparamos com essas infrações em notícias de jornais, o que nos remete às discussões sobre criminologia, do século 19. A criminalização de um ato, ou uma ação, pode ajudar na queda do número de infrações, porém não impede que ela ainda seja praticada pelos humanos em alguns casos isolados. Sendo assim, o que pode ser fator para que essas transgressões ainda sejam praticadas? É exatamente essa pergunta que Bruno Andraus, formado em medicina e psiquiatria, durante sua palestra no simpósio citado acima, tentou responder.

A partir de sua pesquisa empírica, Andraus analisa que primeiramente deve-se entender aspectos multifatoriais e biopsicossociais por trás das ações do indivíduo. Ou seja, as mais diversas ações humanas são influenciadas por diferentes aspectos. Tanto as partes biológicas, genética, psíquica e social. O conjunto desses fatores são os que propiciam o surgimento de nossas atitudes. Portanto, o fato de um ser humano praticar maus-tratos a um animal não vem apenas de um fator específico, mas sim do conjunto desses quatro fatores citados. Além disso, apesar de muitos casos estarem relacionados a transtornos psíquicos, não é regra que todos os acontecimentos estejam ligados a isso.

Trazendo a discussão para o âmbito medicinal, Andraus afirma que não existe um transtorno psiquiátrico específico de uma pessoa que pratica maus-tratos. Entretanto, o especialista faz um levantamento de alguns transtornos psiquiátricos que poderiam explicar o comportamento de humanos que praticam maus-tratos a animais, entre eles: depressão, esquizofrenia, ou os transtornos: bipolar, de controle de impulso, de acumulação, de conduta, antissocial ou parafílicos.

Porém, como ficam as vidas das vítimas após sofrerem a violência? A equipe médica veterinária da Habitat aponta para algumas atitudes a serem tomadas em prol dos animais. Nos casos de atropelamento, e em outros casos mais graves, o atendimento emergencial é feito às pressas, onde a equipe atua com analgésicos e anti-inflamatórios e posteriormente encaminha o animal para internação. Em alguns casos, quando o paciente se recupera, agora vem a parte de encontrar uma família que queira adotar o animal e é feito uma seleção de possíveis tutores, onde avaliamos aqueles que apresentam maior responsabilidade para tutorar o paciente. Em resumo, atendimento clínico e ressocialização.