A RELAÇÃO DA CIÊNCIA COM O MANUSEIO DE GATOS

A Copa do Mundo de futebol no Catar era o assunto mais discutido no momento. Mas agora, com a eliminação do Brasil da competição, a assessoria de comunicação da Clínica Veterinária Habitat traz uma discussão que vem tomando espaço ultimamente: o manuseio de gatos. O vídeo do assessor de imprensa da seleção brasileira de futebol contendo um gato pelo pescoço foi visto com repúdio pela comunidade. Vamos trazer alguns fatos sobre esse procedimento abaixo.

A técnica, além de ultrapassada, é prejudicial à saúde dos gatos e gera desconforto e estresse. Possivelmente você já viu alguém pegando um gato pelo pescoço, para manuseá-lo. Ou então, até mesmo você, que aprendeu que essa é a forma correta e acabou reproduzindo-a. Acontece que, há muitos anos atrás, essa forma de contenção foi difundida como uma maneira correta de manusear gatos, ao redor do globo, incluindo o Brasil. No entanto, ela já saiu de ‘moda’. O vídeo abaixo mostra a forma como o assessor de imprensa manuseia o gato:

Mas por quê essa forma era difundida como a correta? Acreditava-se que, pelo fato de a mamãe gato transportar os seus filhotinhos, agarrando pela pele do pescoço, nós, humanos, poderíamos fazer o mesmo. Porém, como é sabido, nós humanos não somos gatos. Constatação chocante, né? Esse é um dos motivos que nós não devemos agarrar gatinhos pelo cangote para movimentá-los. A região do pescoço do gato é cheia de nervos e vasos sanguíneos e nós não sabemos qual força usar para agarrá-los neste local. Inclusive, essa forma de mover os filhotes é apenas tomada pela mamãe gato nas primeiras semanas de vida. Em gatos adultos, pressionar essa área pode tornar o animal agressivo e até mesmo antissocial.

Conter um gato pela nuca causa uma sensação de medo no animal. As principais formas de reação que um pet pode ter, após se sentir amedrontado, são: fugir, lutar ou ficar paralisado. Agarrar um gatinho pelo pescoço faz com que ele tente lutar, ou ficar paralisado. A ação gera um estresse intenso e traumático no animal.

Precisando de mais informação para se convencer?

São inúmeros os estudos científicos que reportam o fato de se manusear o gato pelo pescoço como uma prática ultrapassada e estressante. Três médicas veterinárias especializadas em manuseio de gatos comprovam, através de estudos empíricos, o fato que estamos trazendo para a discussão. A estadunidense Ilona Rodan, recebeu um prêmio de destaque pela Associação Americana de Hospital Animal, pelos trabalhos desenvolvidos na área da medicina felina. Em seu artigo, publicado em 2011, a médica veterinária escreve um guia que mostra formas amigáveis de se manusear o seu gatinho.

Outra médica veterinária e pesquisadora, a britânica Lauren Williams é especializada em enfermagem felina avançada pelo Centro de Etologia Aplicada a Animais de Estimação (COAPE). Ela escreveu um artigo intitulado: “Cat handling and associated stress”, uma tradução livre seria ‘Manejo de gatos e a associação com o estresse’. No artigo, publicado em 2016, a pesquisadora relata uma nova perspectiva de manuseio em gatos e conta, com dados e estudos, como a antiga forma gera um estresse traumático em gatos.

Ainda trazendo pesquisadoras e cientistas, a canadense Carly Moody é doutora em epidemiologia pela Universidade de Ontario, no Canadá. Em 2019, a médica veterinária publicou um artigo onde relata como os gatos respondem de forma negativa ao scruffing (nomenclatura utilizada pelo fato de agarrar pela nunca). Seus programas de pesquisa científica usam combinações de métodos de pesquisa aplicada em etologia e epidemiologia, além de técnicas estatísticas para estudar o bem-estar animal.

Ok. Mas como eu devo manusear um gato?

Existem diversas técnicas disseminadas no meio da medicina veterinária, que explicam, inclusive um passo-a-passo, formas adequadas de se manusear um gato. Até mesmo os gatos mais agressivos. Se você realmente está interessado e gostaria de aprender uma forma mais gentil de tratar o seu gato de estimação, separamos duas dicas.

A primeira, um curso desenvolvido por um médico veterinário estadunidense, chamado Marty Becker, e desenvolvido por centenas de outros profissionais e pesquisadores, chamado Fear Free (livres de medo). O segundo, outro curso ministrado por médicos veterinários dos Estados Unidos, chamado Cat Friendly Practice (prática amigável para os gatos). Ambos cursos envolvem técnicas de aproximação gentil, respeitando o tempo e o espaço do animal, incluindo contenção com toalhas. O uso de medicação é usado apenas em casos extremos, com a devida orientação do médico veterinário.

Pra finalizar, eduque seu gato em casa

A melhor forma de se educar o seu gatinho de estimação, é nos primeiros meses de vida. Animais não compreendem o significado de ‘certo’ ou ‘errado’, que alguns tutores insistem em reproduzir. Muitos comportamentos dos gatos, que nós consideramos inadequados, são naturais para eles. Portanto, elimine as punições. Ensine o que você gostaria que fosse feito.