Gambá no seu habitat natural

RESGATE DE ANIMAIS SILVESTRES E UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE UMA PROBLEMÁTICA

Na tarde da última sexta-feira, dia 14 de outubro, a Clínica Veterinária Habitat, na sede de Mariana, recebeu um paciente inusitado. Um gambá e cinco filhotinhos chegaram após serem resgatados pelo Corpo de Bombeiros de Ouro Preto. De acordo com a guarnição, o resgate foi realizado no quarto andar de um prédio da zona urbana de Ouro Preto. Ainda não se sabe como a mamãe gambá foi parar tão longe, mas os animais já foram atendidos e passaram por todos os tratamentos médicos veterinários necessários e já poderão ser liberados novamente ao habitat natural na tarde desta terça-feira, dia 18 de outubro.

Um dos profissionais que participaram do resgate, Thiago Maurício Martins, segundo sargento do Corpo de Bombeiros há 12 anos, afirma que os animais foram encontrados encolhidos em um canto e não apresentaram nenhuma atitude agressiva no momento da ação. O comportamento da mamãe gambá foi inusitado para toda a guarnição, que logo supuseram que o animal poderia estar debilitado, ou com algum problema de saúde. Após o sucesso do resgate, os animais foram encaminhados para a Clínica Habitat, onde foram atendidos e passaram por testes para possivelmente diagnosticar alguma doença.

Através da assessoria de comunicação da Clínica Habitat, a informação que chega aos jornais é que os animais seguem em observação pela equipe médica veterinária da clínica. Os filhotes e a mamãe gambá apresentam temperatura baixa, mas já receberam cobertores e alimentação. Amanda Lopes, a médica veterinária que está fazendo o acompanhamento dos gambás, afirma que por enquanto os animais não apresentam outras condições clínicas mais graves, estão apenas com frio e famintos. Entretanto, os animais seguem em observação e internados na clínica, onde ainda esperam para receberem alta e serem novamente soltos no seu habitat natural.

Ainda de acordo com o segundo sargento Thiago Maurício, resgates de gambás são muito comuns na região urbana de Ouro Preto e região. Portanto, se por acaso o cidadão se deparar com o animal, o recomendado é não fazer nenhuma abordagem. Na maioria dos casos de resgate, como mecanismo de defesa, animais silvestres tendem a serem agressivos quando algum humano chega perto para prestar socorro. Portanto, o correto é acionar os órgãos públicos, como: Guarda Municipal (153), Polícia Militar (190) ou Corpo de Bombeiros (193).

Algumas informações e curiosidades sobre os gambás

Os gambás são mamíferos da família dos marsupiais, assim como os coalas e os cangurus. Isso significa que eles possuem bolsas, denominadas marsúpios, onde os filhotes ficam para terminar o processo de desenvolvimento. A gestação da mamãe gambá é bastante rápida, acontecendo em até 13 dias. Apesar da aparência parecida com ratos, os gambás não são roedores.

Esses mamíferos são onívoros, se alimentam de diversos tipos de comidas. Alguns dos principais alimentos dos gambás são pequenos invertebrados (insetos e escorpiões), filhotes de vertebrados (aves e cobras), ovos, frutas e até mesmo carniça. São animais de extrema importância ecológica, pois atuam no controle de pragas e também na dispersão de sementes.

A problemática da relação do homem com animais silvestres

A relação dos humanos com os animais silvestres é tema recorrente em teses de mestrado, doutorado, artigos científicos e tantos outros estudos acadêmicos. No âmbito da saúde, essa relação nos remete a discussões como as crises pandêmicas que a sociedade viveu ao redor do mundo. Mesmo com o bombardeio de falsas notícias e informações erradas sobre como se iniciaram as últimas pandemias que vivemos, é cientificamente comprovado, através de estudos empíricos que demoram meses para serem concluídos, que a pandemia do COVID 19 e agora novamente o surto de varíola dos macacos tiveram início através do contato entre humanos e animais silvestres.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no final de 2019, o órgão foi alertado sobre vários casos de uma suposta pneumonia na capital de uma província da China, chamada Wuhan. Apenas no início de 2020 que as autoridades chinesas confirmaram um novo tipo de coronavírus identificado. Após muito trabalho e estudos de casos, foi comprovado que o vírus que infectava apenas morcegos, por evolução natural, começou a infectar humanos, através do manuseio desses animais.

A varíola dos macacos, como temos visto ultimamente, também é transmitida de animais silvestres para humanos, através do manuseio desses animais infectados. Outras duas epidemias também tiveram maior incidência nos humanos através do contato com animais infectados. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (mais conhecida como Sars), com grande incidência em 2002, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (conhecida como Mers), com primeiro caso em 2012, foram doenças que o vírus transmissor se originou em morcegos e posteriormente, por evolução natural, começaram a ter outros hospedeiros, como civetas (um mamífero amplamente comercializado nos países asiáticos) e camelos.

Portanto, a partir do conhecimento que viemos adquirindo com o passar dos anos sobre as zoonoses (doenças infecciosas transmitidas entre animais e humanos), sempre que se deparar com algum animal silvestre, tente não fazer o contato imediato. Busque ajuda junto aos órgãos públicos, como a Polícia Militar (190), a Guarda Municipal (153) ou o Corpo de Bombeiros (193), para que seja feito resgate, ou manuseio de forma correta desses animais.